Entendendo Ronaldo Fraga

janeiro 20, 2010

Moda não é apenas roupas. É personalidade, história, passado, futuro, pesquisa, estudo, “é o cérebro por fora” como disse Maurício Azevedo. É informação variada, traduzida em tecidos, texturas, cortes e silhuetas. Para quem quer escrever sobre ela, a leitura de textos como esse, esse e esse é importantíssima, pois desafia a aprender e entender o que está por trás da moda vista para no final escrever bem de verdade (do ponto de vista da crítica).

Enfim. Hoje pela manhã fui ver fotos da SPFW. Deixei Ellus, um dos meus favoritos, pra depois, e pulei para Reinaldo Lourenço, Alexandre Herchcovitch e Ronaldo Fraga. Gostei dos 2 primeiros – mas foi Ronaldo Fraga quem mais chamou a atenção, pela coleção aparentemente sem pé nem cabeça – ou melhor, de virar a cabeça: rostos eram cobertos com cabelo e mascáras estavam atrás. Hã? Mas, istigada por Vitor Angelo, Sylvain e as Oficinas, fui buscar aprender para tentar compreender a passarela de Ronaldo.

Sua inspiração foi Pina Bausch, coreógrafa e bailarina alemã de dança moderna. Suas coreografias, eu descobri, tratavam de sentimentos, indo desde a comunicação entre os sexos até a busca pelo amor — tudo com muita expressividade corporal. E aí, depois de aprender sobre ela, comecei a entender a ele; ficou mais claro de onde saíram os vários cravos presentes na coleção, as cadeiras que estavam por todo o lado, o porquê do choque feminino/masculino na combinação de vestidos com ternos e coletes e calças e sapatos masculinos.

Em meio a tantos elementos sensitivos, Ronaldo não deixou de ser atual, com peças brilhosas, volumes nos ombros, laços, transparências ocasionais, cores fortes, o encontro de peças dela com as dele, e silhuetas amplas. Achei o desfile interessante. E interessante também foi ver que meu olhar final sobre a “esquisitice” do desfile diferia com o anterior (o olhar do não-entendimento). Só depois de pesquisar as referências compreendi o que vi na passarela; mais ou menos como os modelos, que andaram para frente olhando para trás…

Recomendo o exercício a todo mundo que quer ter um melhor olhar sobre a moda. Afinal, ela fica muito mais interessante quando a entendemos, não?